Introdução sobre o Crescimento e Relevância da China
A China é, atualmente, o país que mais cresce no mundo. Por essa razão, tem se destacado no cenário geopolítico mundial. Nos últimos 30 anos, o mundo observa um crescente avanço da República Popular da China. Esse progresso é constatado em múltiplos elementos, principalmente nos indicadores socioeconômicos e pelo papel geopolítico que o país asiático exerce na arena política mundial. É indiscutível que este é o século em que a China mudou o mundo, reconfigurando dinâmicas globais e desafiando a ordem estabelecida por potências ocidentais.
A ascensão da China como a segunda maior potência global é um fenômeno complexo. A China tem uma história milenar e uma cultura rica. Contudo, sua posição atual no mundo resulta de fatores como reformas econômicas, políticas e sociais. Essas mudanças foram implementadas ao longo das últimas décadas. É possível resumir as duas primeiras décadas do século 21 em apenas uma frase? Difícil. Talvez seja mais fácil resumi-las em cinco letras: China.
Do comércio internacional ao aquecimento global, das novas tecnologias à exploração do espaço, a maior nação do planeta deixou sua marca em quase tudo que ocorreu de 2001 a 2020. A relação entre China e Estados Unidos se tornou central na avaliação do novo papel da China no mundo, especialmente após sua abertura comercial. Essa interação moldou a dinâmica geopolítica global e teve implicações significativas para ambos os países.
Como a China se destacou no comércio internacional? Para entendermos essa questão, precisamos relembrar alguns pontos da trajetória do país no comércio exterior.
Fatores de Influência da China no Cenário Global
A China exerce grande influência política, militar e econômica no cenário regional e internacional. Isso se deve a fatores determinantes, como sua grande extensão territorial, elevadíssimo número de habitantes e dinamismo econômico. O país ocupa o terceiro lugar em dimensão territorial e possui cerca de 1,3 bilhão de habitantes, sendo o mais populoso do mundo. Além disso, sua economia apresenta os maiores índices de crescimento em todo o planeta.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2000, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês era de US$ 1 trilhão. Em 2022, esse valor alcançou US$ 18 trilhões, colocando o país como a segunda maior economia do planeta. Este é apenas um dado que ilustra tal evolução.
Uma das principais razões para o sucesso econômico da China foi a implementação de políticas de reforma e abertura, iniciadas em 1978 pelo líder Deng Xiaoping. Essas políticas visavam modernizar a economia do país e integrá-la na economia global. Elas permitiram a entrada de investimentos estrangeiros e incentivaram o setor privado. Além disso, promoveram a liberalização do comércio e da indústria.
O Impacto das Reformas Econômicas
Com 1,3 bilhão de habitantes, a China começou o novo milênio com um PIB de US$ 1,2 trilhão. Vinte anos depois, ele superou os US$ 15 trilhões, tornando-se o segundo maior do planeta. Analistas projetam que, na próxima década, o país superará os Estados Unidos como a maior economia do mundo. Em 20 anos, nenhum país cresceu e se transformou tanto como a República Popular da China.
O incidente envolvendo um avião de reconhecimento americano e um caça chinês em 2001 exemplifica as tensões iniciais entre as duas potências. O choque resultou na captura de 24 membros da tripulação americana pela China, ilustrando a fragilidade das relações diplomáticas. Apesar da disputa, o presidente George W. Bush visitou a China em 2002, marcando um esforço de cooperação, mesmo em meio a um crescente déficit comercial.
Fatores Determinantes do Crescimento
- A estratégia econômica da China e o investimento foram cruciais para seu crescimento.
- O país demonstrou habilidade em conectar sua economia ao processo de globalização produtiva.
- Desde os anos 1980, houve um deslocamento de empresas transnacionais de países desenvolvidos para nações em desenvolvimento.
Esse deslocamento culminou na integração das cadeias de produção e no aumento do comércio intrafirma. A inclusão da China nos fluxos globais de comércio permitiu a injeção de capital estrangeiro, possibilitando a criação de amplas redes de comércio.
Política Interna e Centralização do Poder na China
Centralização do Poder e a Política Interna
A China se desponta no cenário global devido ao modo agressivo de sua aplicação política interna e externa. A política interna do país está vinculada a uma extrema centralização do poder. Essa centralização está sob os domínios do único partido político do país, o Partido Comunista Chinês (PCCh). O desenvolvimento e a envergadura geopolítica da China contemporânea são frutos de um profundo processo de reforma política e econômica. Esse processo ocorreu entre os anos de 1970 e 1980, com figuras importantes como Deng Xiaoping, Chen Yun e Zhao Ziyang.
As transformações promovidas por essas lideranças levaram a China de um comunismo centralizado para o chamado socialismo de mercado. Essas reformas transformaram a China em uma economia de mercado com características socialistas. A incrível expansão comandada pelo PCC começou em 1980, com as reformas instituídas por Deng Xiaoping. Ele decidiu promover a adoção do capitalismo na economia, mantendo a centralização comunista na política.
Impacto das Reformas de Deng Xiaoping
As reformas promovidas por Deng Xiaoping, iniciadas em 1978, foram cruciais para a transformação econômica da China. Embora a centralização do poder tenha sido mantida, a abertura econômica permitiu a entrada de produtos chineses em mercados globais. Isso se refletiu especialmente nos Estados Unidos, onde as importações de produtos chineses saltaram de US$ 83,8 bilhões em 2000 para US$ 259 bilhões em 2007.
Estratégia de Abertura Econômica
- As reformas chinesas seguiram uma estratégia cuidadosamente planejada e coordenada pelo Estado.
- As alterações no comércio exterior se iniciaram com políticas macroeconômicas que ampliaram os fluxos comerciais.
- Desde os anos 1990, a política cambial manteve o yuan desvalorizado para sustentar as exportações.
As políticas fiscal e monetária foram coordenadas para direcionar a expansão do crédito. Isso financiou investimentos públicos na indústria e infraestrutura. Além disso, apoiou o desenvolvimento dos setores exportadores por meio de isenções tarifárias e condições de financiamento mais favoráveis.
Repressão a Movimentos Sociais na China
A repressão a movimentos sociais é uma característica marcante da política chinesa. O governo coíbe qualquer tipo de movimento de caráter social, como greves e manifestações. Caso ocorram, são rigorosamente interceptados pelo uso da força.
A ascensão da China também tem sido acompanhada de críticas. Muitas pessoas acreditam que o país se tornou uma potência global à custa da exploração de trabalhadores e do meio ambiente. O “dragão” é acusado de violar direitos humanos e reprimir a dissidência política. Além disso, mantém um sistema de censura rigoroso. O crescimento econômico da China não foi isento de críticas, e o aumento do déficit comercial levantou preocupações sobre as condições laborais no país.
Papel da China no Cenário Internacional e na ONU
No âmbito internacional, a China está obtendo maior força e participação nas decisões políticas. Isso levou o país a ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. A crescente influência global da China suscita críticas. À medida que a nação se torna mais poderosa, busca expandir sua influência em outras partes do mundo.
O reconhecimento internacional do avanço chinês ocorreu após apenas 20 anos, na virada do milênio. Em novembro de 1999, a assinatura de um acordo com os Estados Unidos eliminou barreiras à entrada de produtos e serviços estrangeiros. Esse movimento iniciava o caminho rumo à entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC). O governo americano defendia a nova relação com a China como benéfica para o mundo todo.
A entrada da China na OMC em 2001 representou um reconhecimento internacional de sua crescente influência. No entanto, essa adesão trouxe desafios, como o aumento do desemprego e a necessidade de ajustar suas indústrias estatais à nova realidade de competição.
Potencial Militar e Desenvolvimento de Armas da China
O potencial militar da China tem contribuído para o incremento de sua influência internacional. Nesse sentido, o país detém um enorme exército, sendo o mais populoso do mundo, e possui um diversificado arsenal bélico. Por exemplo, isso inclui bombas atômicas e mísseis. Além disso, a crescente rivalidade entre os EUA e a China se reflete na área militar. Assim, a espionagem e as tensões sobre a segurança regional foram constantes durante a década de 2000. Embora a cordialidade nas relações políticas fosse uma constante, a desconfiança persistia, influenciando a interação bilateral.
Desenvolvimento Espacial e Tecnológico da China
A China domina tecnologias espaciais, sendo fabricante de satélites artificiais e foguetes. A expansão econômica do país é visível nas grandes cidades. Desde a abertura econômica, a urbanização e o êxodo rural transformaram o cenário demográfico. Shenzhen, por exemplo, emergiu como um exemplo significativo de crescimento urbano e industrial. A cidade se tornou um polo atrativo para investimentos e inovação, destacando-se como uma das Zonas Econômicas Especiais do país.
Projeções para o Futuro: China como Potência Mundial
A Ascensão da China no Século XXI
Diversos estudos apontam que a China se tornará a principal potência do século XXI. Essa perspectiva, portanto, está alicerçada no índice de crescimento econômico e no potencial político e militar do país. Além disso, para os dirigentes chineses, a construção de uma política externa robusta depende de um país forte e estável no cenário interno. Consequentemente, essa ideia está ligada à visão confucionista de que a China deve ocupar seu lugar como a maior nação do mundo.
Nesse contexto, a concepção de um desenvolvimento conjunto dos cenários interno e externo é a chave para a “ascensão pacífica” chinesa, especialmente durante a liderança de Hu Jintao, entre 2003 e 2013. De fato, o crescimento do PIB chinês exemplifica essa rápida ascensão. O PIB saltou de US$ 1,2 trilhão em 2000 para US$ 6 trilhões em 2010. Além disso, a transformação de Shenzhen, de uma pequena cidade a um centro industrial com mais de 12 milhões de habitantes em 2020, ilustra a magnitude desse desenvolvimento.
Reformas Políticas e Econômicas na China
As modernizações política e econômica da China, realizadas no século passado, permitiram a integração da economia chinesa aos mercados globais. Isso, por sua vez, ocorreu através da “política de portas abertas”, que atraiu inúmeras empresas estrangeiras para operar nas Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), inauguradas em 1980. Adicionalmente, a estratégia econômica do governo chinês, sob um modelo de capitalismo de Estado, resultou na atração de empresas como a DeCoro, que encontraram mão de obra abundante a custos reduzidos.
Consequentemente, esse modelo econômico contribuiu para a competitividade global da China e ajudou a consolidar sua posição no comércio internacional. Portanto, a integração da China ao sistema econômico global é um dos pilares da sua ascensão como potência.
Zonas Econômicas Especiais e Abertura Econômica
Atualmente, existem sete grandes ZEEs, incluindo Shenzhen, Zhuhai, e Xiamen, além de outras classificações como Zonas de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico Nacional. A “política de portas abertas” proporcionou a liberalização do comércio exterior, o avanço tecnológico e a entrada de investimentos estrangeiros na China.
As ZEEs foram fundamentais para a reforma econômica da China. Elas proporcionaram um ambiente favorável para investimentos, resultando em um crescimento econômico sem precedentes e na modernização da infraestrutura. Incentivos para a entrada de empresas estrangeiras foram implementados em diversas regiões, criando um ambiente propício para o desenvolvimento industrial.
Princípios da Diplomacia Chinesa
A ascensão pacífica da China é pautada por dois aspectos básicos. Em primeiro lugar, o primeiro é o princípio das cinco regras de coexistência pacífica, utilizado pela diplomacia chinesa desde os anos 1950. Além disso, o segundo é a criação de uma “comunidade de futuro compartilhado global”, onde todas as nações têm o direito de participar das decisões em assuntos de ordem mundial.
Nesse contexto, a diplomacia chinesa busca construir uma imagem positiva e moderna no cenário internacional. Por exemplo, a realização dos Jogos Olímpicos de 2008 em Pequim simbolizou esse esforço e consolidou o status da China como uma potência global.
Estratégia Geopolítica da Nova Rota da Seda
Para suprir suas necessidades internas, a China desenvolveu uma audaciosa estratégia geopolítica chamada “Nova Rota da Seda”, ou Belt and Road Initiative (BRI). Dessa forma, através de acordos de cooperação, a China cria corredores econômicos transnacionais que são manifestados em ferrovias, rodovias e portos, com o objetivo de ligar o território chinês a outros países.
A crescente influência global da China é evidente nos investimentos em países em desenvolvimento. Além disso, esse aspecto da estratégia suscita preocupações entre nações ocidentais, que temem uma nova dinâmica de poder mundial. Por outro lado, o acesso a recursos e mercados é crucial para a China, e isso pode alterar as relações internacionais.
Impactos e Resultados da Ascensão Chinesa no Cenário Global
A ascensão da China no cenário político e econômico mundial é fruto de estratégias cuidadosamente pensadas para promover o progresso interno e externo. Nesse sentido, essas estratégias começaram no século XX, com a “política de portas abertas” e a abertura econômica, as quais atraíram empresas e capital estrangeiro.
A lógica de crescimento multiescalar, respeito à soberania e promoção de uma política externa multilateral garantem à China uma centralidade crescente no século XXI. Por exemplo, a China tem investido fortemente em países em desenvolvimento, como na África, buscando garantir acesso a recursos naturais e mercados.
Essas ações levantam preocupações em alguns países ocidentais, que temem que a China esteja tentando minar sua influência global. Além disso, a competição econômica pode ser vista como parte de uma nova guerra fria entre a China e os Estados Unidos. Nesse contexto, nos anos seguintes, o desemprego na China continuou na faixa de 4%, atingindo seu pico em 2009, durante a crise global, e mantendo-se em 4,4% em 2020.
O Comércio e a Regulação das Trading Companies
Adicionalmente, o comércio foi regulado através das Trading Companies (TCs). Além disso, as empresas enfrentavam restrições para importar e eram responsáveis pelos setores estratégicos da indústria nacional. Essa estrutura, por sua vez, deu ao Estado chinês a capacidade de bloquear a entrada de importações em setores prioritários.
Ao mesmo tempo, a China aproveitou o capital estrangeiro em setores transnacionais exportadores. Essa estratégia impulsionou as exportações chinesas e estimulou o crescimento das TCs, especialmente nos setores de alta tecnologia. Assim, a ascensão da China como potência global trouxe resultados mistos, incluindo oportunidades de crescimento econômico e desafios geopolíticos que ainda estão sendo avaliados.
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